quarta-feira, dezembro 18, 2002
>>E esta, hein?
"EUA Querem Boa Imagem Internacional
Por ELISABETE VILAR
Quarta-feira, 18 de Dezembro de 2002
Aliciamento de jornalistas
Os Estados Unidos consideram a hipótese de pagar a profissionais do "media" para escreverem favoravelmente sobre as suas políticas. Financiar escolas e livros muçulmanos e forjar manifestações de apoio são outras medidas para conquistar a opinião pública
O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, tem em cima da mesa um projecto para limpar a imagem do país no estrangeiro. O plano passa pelo aliciamento de jornalistas europeus, que seriam pagos para disseminar ideias simpáticas sobre o país do "Tio Sam" nos "media" do velho continente.
A campanha de propaganda, que o Pentágono decidiu pôr em marcha após os ataques suicidas em Setembro do ano passado, inclui ainda a organização de manifestações pró-americanas em países cuja população resiste à aliança com os Estados Unidos e até o financiamento de livros e escolas islâmicas orientadas para uma aproximação a Washington.
São estas algumas das possibilidades ao alcance de Rumsfeld avançadas na edição de anteontem do diário "The New York Times", numa operação a levar a cabo tanto junto de nações inimigas como aliadas. No entanto, no seio do Departamento de Defesa a questão tem levantado polémica, com alguns dos responsáveis a considerarem no mínimo delicado o envolvimento do aparelho militar em tal missão, podendo ferir a credibilidade do Pentágono.
Donald Rumsfeld, todavia, sustenta que o Governo dos Estados Unidos tem até agora fracassado nos seus intentos de explicar as suas posições e objectivos a uma opinião pública internacional cada vez mais hostil. E mais: embora se oponha, em princípio, à ampliação das responsabilidades do seu departamento, o secretário da Defesa acredita que poderia concretizar o projecto de forjar uma imagem positiva do país no estrangeiro melhor do que outros membros do gabinete do Presidente George W. Bush.
A Casa Branca, por seu turno, prefere não abordar directamente uma questão que partiu do Pentágono, mas o assessor de imprensa da presidência, Ari Fleischer, declarou à Associated Press: "Há um reconhecimento generalizado na administração de que os Estados Unidos têm o importante papel no mundo de comunicar a todos a mensagem de esperança e oportunidade da América. É importante que esta mensagem seja partilhada em todo o mundo, em países amigos e outras regiões também."
Os indicadores são claros: segundo um estudo divulgado ontem pelo diário espanhol "El País", a imagem dos Estados Unidos, nos últimos dois anos, piorou em todos os países, excepto na Rússia e Uzbequistão, e é percebida de forma muito negativa nos países muçulmanos. E o Pew Global Attitudes Project apurou que os Estados Unidos perderam consideração em 19 dos 27 países em que conseguiu determinar uma tendência.
Rumsfeld protagonizou já uma tentativa, falhada, de canalizar os enormes recursos da máquina militar para a emissão de propaganda. Em Fevereiro, foi encerrada uma agência que tinha essas funções quando a imprensa revelou que, entre as suas tarefas, se contava a de emitir notícias falsas que favoreciam os Estados Unidos.
As novas medidas de propaganda têm também dado azo a polémica. A proposta de usar o aparelho militar para influenciar a opinião pública de nações amigas anda a pairar há um ano, dividindo militares e civis. É que, por um lado, existe acordo quanto à necessidade do corpo militar se dedicar a "operações psicológicas" para angariar apoiantes em países adversários ou onde os EUA conduzem operações militares. Mas alguns responsáveis insistem em que os esforços de formatação da opinião pública deveriam permanecer tarefa do Departamento de Estado. E muitos críticos têm defendido que o Departamento da Defesa arrisca a sua credibilidade se levar a cabo estas operações sub-reptícias em países neutros ou aliados.
No Iraque, por exemplo, a campanha de propaganda levou os Estados Unidos a bombardearem o país com panfletos exortando os comandos militares iraquianos a não obedecerem a nenhuma ordem relacionada com o uso de armas de destruição maciça e instando as baterias antiaéreas a não dispararem contra os aviões de Bush. Operar em países aliados requereria mais sofisticação e ambiguidade e abriria a possibilidade de irritar governos amigos - aos quais não iria agradar a ideia de ter jornalistas a soldo convertidos em responsáveis de marketing dos Estados Unidos.
Tanto mais que nas nações aliadas, como o Reino Unido, o Canadá e a Alemanha, as críticas da opinião pública às políticas norte-americanas não são apresentadas com paninhos quentes. De acordo com o estudo do Pew Global Attitudes Project, as críticas mais frequentes asseveram que os actos da administração norte-americana por si só dão arrogantemente origem a políticas que alargam o fosso entre nações ricas e pobres. E acusam o país de fazer demasiado pouco para resolver os problemas mundiais."
Edição do dia citado do jornal "Público", notícia integral
Deviam ter vergonha!
Germano Oliveira
às
22:09
|